terça-feira, 7 de abril de 2009

A estagiária

"Femme a la colombe", Tamara de Lempicka

Passei esse tempo sem escrever porque queria entender o que está acontecendo comigo. Não sei se é o começo de uma boa amizade ou de uma paixão. Acho que não estou preparada para me apaixonar de novo, ainda mais por uma menina heterossexual e bem mais nova que eu.

Há pouco mais de um mês, essa estudante universitária passou a estagiar na empresa que trabalho. Ela não é a primeira estagiária que aparece por lá, mas desde o primeiro momento eu senti afeto por ela, talvez por causa do interesse em aprender, ou pela insegurança no agir, me fazendo lembrar a mim mesma no começo da carreira. Acabei me tornando uma espécie de tutora dessa estagiária, porque sempre explico pacientemente todas as dúvidas que ela tem.

Isso fez com que nos tornássemos mais próximas. Almoçamos juntas algumas vezes, ela falou sobre seus planos para o futuro e sobre o namorado. Eu me mantive reservada sobre minha vida pessoal, porque tudo o que eu não queria era falar de Diana, mas contei as dificuldades que passei quando vim de Natal para cá, sem conhecer quase ninguém. Mas como corria à boca pequena que esse meu relacionamento com Diana era mais que simples amizade, talvez ela suspeite, não sei.

Ao final do expediente, depois que já terminei as tarefas e estou organizando a mesa, atualizando a agenda ou verificando algo que preciso fazer no dia seguinte, gosto de ligar uma música baixinho. Na semana passada, eu estava ouvindo Yamandu Costa. Ela não conhecia o som do violonista e eu ofereci meus fones para ela ouvir melhor o som do meu computador. Foi então que veio absurdo: convidei-a para vir ao meu apartamento e eu lhe apresentaria outros discos do Yamandu.

Não sei porque eu fiz isso, até hoje tento entender. Eu podia simplesmente dizer que iria gravar para ela os discos que tenho. Pensei que ela fosse ignorar o convite, mas na quarta-feira ela me perguntou se ainda estava de pé, porque naquele dia não teria aula na faculdade e o namorado havia viajado. E eu disse que sim.

Foi uma noite ótima. Yamandu Costa, Paulinho da Viola, Amália Rodrigues, um cabernet sauvignon El Portillo e o ótimo humor da estagiária fizeram com que me divertisse como há muito tempo não acontecia. Quando ela foi embora, deixou fantasias em minha cabeça.

Ela é uma mulher solar, de cabelos castanhos claros e face um pouco bronzeada. Os óculos envelhecem um pouco o rosto de menina, e eu gostei dos lábios cobertos apenas por um gloss transparente. Deve ter gosto de fruta o beijo dela. O pescoço longo convida a longos beijos, e depois que ela se foi, já na madrugada, deixou impregnado em mim um cheiro de cravo, denunciando as últimas notas do seu perfume.

Não quis ir tomar banho logo, preferi ficar sentindo ainda a presença do perfume dela - estou lendo "O Perfume", de Patrick Sussekind, talvez seja por isso eu esteja tão atenta aos cheiros. De olhos fechados, imaginei o quão macio poderia ser o toque das mãos dela em meu corpo. O gosto de fruta de seus lábios molhados, com a língua fazendo movimentos moles e cadenceados dentro de minha boca. Sem pressa e com as bocas ainda coladas, desnudando e descobrindo o corpo uma da outra. Os seus pequenos seios alvos, quase juvenis, devem trazer uma pinta próximo a areola rosada, que se arrepia entre meus lábios.

Em um ambiente perfumado com especiarias, tudo aconteceria de muito devagar, como se fosse em câmera lenta, e com o silêncio interrompido apenas por susssuros e fracos gemidos. Nuas e sentadas de frente uma para a outra, nossos corpos trocam calores enquanto eu saboreava o sabor de sua pele.

Colocava a pequena sentada sobre minhas pernas cruzadas de costas para mim. Acomodaria a cabeça sobre meu ombro, deixando sua orelha, pescoço e colo ao alcance da minha boca. Escorregaria as pontas dos dedos pelas laterais do seu tronco para sentir sua pele arrepiar. Cobriria todo o seio com uma das mãos, e com a outra desceria pelo corpo até sentir uma penugem úmida e depois até a molhada fenda.

Levaria então os dedos à boca, para sentir seu gosto. Voltaria a estimular o clitoris até sentir seu corpo ondular sobre o meu. Ela se deitaria sobre a cama e eu me colocaria entre suas pernas abertas. O primeiro toque de minha língua faria sua boceta estremecer, mas depois se ofereceria como flor desabrochada e pistilo avermelhado para eu colher seu nectar. Empurrando delicadamente minha cabeça entre suas pernas para eu colher mais fundo e mais fundo o seu mel.
Acabei a noite batendo uma siririca no banheiro e depois outra na cama até que adormeci.

6 comentários:

Chevalier disse...

Você tem uma imaginação e uma criatividade fora como comum. Já li este post um 3 vezes, deliciosamente interessante de imaginar!!!
"Chevalier à espreita dessa nova história..."

Léo Villanova disse...

Mais uma visita no seu apartamento e a menina passa de estagiária pra profissional rapidinho. :)

Bruno Ribeiro disse...

Bárbara, acho que esta é a terceira ou a quarta vez que eu (re)leio este relato. Continuo impressionado pelo caráter hipotético e literário (sem querer parecer chato) que seu texto assume nas mais variadas formas. A escolha das palavras, o emprego adequado dos verbos, e a tamanha sensibilidade imagética com as coisas do cotidiano ("todo dia ela faz tudo sempre igual"... lembrei não muito por acaso), só fazem reaçar algo que aparentemente você nega: a poeta Bárbara (e bárbara também como adjetivo) que você é.
Até agora este é para mim o teu melhor "poema".

Um beijo e continue escrevendo (e, claro, vivendo o que a vida oferece de melhor).

Bárbara disse...

Eu sorrio por dentro e por fora quando vejo os comentários de vocês.

Chevalier, você com certeza é tão doce quanto suas palavras e o nome que escolheu para si. Obrigada.

Léo, senti sua falta por aqui. O que aconteceu pra você passar tanto tempo sem me visitar? Bem que eu queria que a estagiária passasse à profissional no sentido que você falou, o problema é que tenho uma dificuldade tremenda de chegar perto das pessoas. Eu não sei paquerar.

Meu amigo Bruno, você não imagina o quanto me sinto orgulhosa pelas palavras que me dirige. Eu sou uma pessoa perfeccionista e muito atenta aos detalhes e isso acaba se refletindo em meus relatos. Quando escrevo, quero que vocês sintam as mesmas sensações que senti, então tento transformar isso em palavras. Acho que estou conseguindo, mas sabe como é a autocrítica né? Depois que eu leio o que escrevi, sempre acho que poderia ter feito melhor.

Dando a Bunda pra Bater disse...

Hetero? Sei, não...Vá com cuidado, moça!

Abraços,

Enfil

Anônimo disse...

hipnotizador.

Pedro (pedro_ribeiro_2006@hotmail.com)