terça-feira, 15 de setembro de 2009

PALAVRA DE MULHER



Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olha para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar

Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor eu, vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar

Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode nosso teto, a Lapa, o rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
Espera
Me espera
Eu vou voltar

*  *  *

Aconteceu tanta coisa nesse meio tempo, que nem vale à pena falar. O que posso dizer é que houve momentos em que o blog ficou de lado porque eu tinha tanto para viver, e em outros, porque eu já não podia mais conviver com ele.

O que importa é que o pior já passou. Hoje estou mal apenas por não ter respondido a tantas mensagens que pediam notícias minhas e que queriam saber a razão do meu sumiço. Desculpe-me amigos, existe períodos que é necessário parar tudo para colocar a vida em ordem.

Depois de ficar tanto tempo off, agora queria voltar em grande estilo - tirei fotos minhas com esta intenção - mas não sei ainda quando é que vou poder voltar a postar com frequência, porque dentre todos os problemas, meu computador está em estado de coma profundo, e não sei se ele vai voltar algum dia.

Mas quanto a mim, "palavra de mulher, eu vou voltar".

Beijos a todos,

Assim que puder, respondo aos e-mails pendentes

Ah, a canção acima é do Chico Buarque e a imagem faz parte do acervo do Pequenos Delitos (http://pd.tumblr.com/page/17)

domingo, 28 de junho de 2009

De olhos bem fechados


Quando meus olhos estão fechados, meu corpo se abre para outras sensações.

Eu nunca gostei de ficar no escuro - e esse é só um item da minha lista de medos bobos - até mesmo na hora de dormir, e nem com a cabeça coberta gosto de ficar. Então quando Diana propôs me amarrar na cama e me vendar, não fiquei muito empolgada. Esse lance de não ter controle sobre uma situação me deixa um pouco nervosa, tanto que para realizar essa fantasia, ela deixou que eu assumisse primeiro a condição de dominadora.

Isso aconteceu da outra vez e não lembro se já contei essa história aqui, mas na semana passada foi a vez dela de cobrar o outro lado da moeda, poder fazer o que quiser comigo sem eu enxergar ou poder reagir de qualquer forma. Eu não queria, mas Diana estava tão empolgada que não tive como dizer não.

Com uma echarpe, prendeu meus dois braços juntos na cabeceira e usou cintos para amarrar minhas pernas separadas nas laterais da cama. Nessa hora eu já havia ficado um pouco tensa, por isso ela não vendou meus olhos logo. Antes derramou um pouco de óleo de essência de sândalo e espalhou sobre meu corpo com as mãos. O toque escorregadio, a massagem em meus seios e as mordidinhas na orelha dissiparam a minha tensão em segundos. Diana aquecia as mãos esfregando uma na outra e depois deslizava-as no meu quadril, cintura e seios.

Encarando-me com olhos perversos, abaixou a cabeça e pude sentir sua língua tocar de leve meu clitoris. Meu corpo arrepiou. Ela voltou para me beijar a boca, compartilhando meu gosto. Diana sabia que a essa hora eu já estava completamente rendida. Só então pegou uma máscara de dormir e vendou meus olhos.

Ouvi seus passos se afastarem, mas apesar de ela avisar que já voltava, não pude deixar de ficar um pouco nervosa. Se ela fosse ao banheiro, levasse um escorregão e desmaiasse, o que seria de nós? Eu tentava olhar em volta por uma pequena fresta de luz que entrava pela máscara e forcei os braços, mas eles estavam bem presos, até demais.

Então senti algo molhado subindo pela minha barriga. A primeira reação foi um susto tremendo, mas era Diana, que havia voltado sem fazer barulho. Essa foi apenas a primeira de uma série de sensações. Num momento eu sentia cócegas nos pés ao mesmo tempo que sua língua passeava por minha orelha. Em outro parecia que centenas de mãos tocavam várias partes do meu corpo ao mesmo tempo.

Doce tortura. Suas unhas arranhavam minha cintura, seus cabelos pousavam sobre meu rosto e eu sentia sua língua em meus mamilos. Mesmo sem me tocar a boceta, gozei com as mordidinhas e lambidas em minha orelha. Logo depois sinto seus dedos em minha boca e quando eu lambo, surpresa, era o gosto dela e não o meu.

Diana colocou os seios em minha boca e foi descendo lentamente, enquanto eu sentia o cheiro de sua pele passando por cima de mim. Depois, quando seu corpo se aproximou mais do meu rosto, foi o cu que ela me ofereceu para degustar. Mas pouco tempo depois eu não podia mais, um vibrador encostado ao meu clitoris provocou espasmos em meu corpo. Nem bem recuperei o fôlego, ela cobriu minha boca e o nariz com sua boceta.

Eu estava fora de mim. Queria usar as mãos, queria envolvê-la com meu corpo, por isso foi torturante - dessa vez no mal sentido - não conseguir me mexer. Diana se deitou por cima de mim, e eu ouvia os gemidos de seu orgasmo. Ela então desatou minhas pernas de braços e eu ataquei. Joguei-a na cama e encaixei as minhas pernas entre as dela. Nossos púbis se beijaram, se confundiram, se esfregaram, até que juntas expandimos em gozo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Cala a boca, Bárbara

(Gustave Courbet - The Sleepers)

Seria um fim de tarde esplendoroso, aquele sábado dia 30 de maio, se o barulho da cidade e suas pessoas não estragassem a paisagem. Ansiosa por nosso reencontro, cheguei meia hora adiantada. Sentei no nosso banco, onde tantas vezes tentávamos fechar os ouvidos (e o nariz) para a cidade e enxergar apenas a areia, o mar, o céu. Desde que Diana me visitou quando eu estava doente, as lembranças de nossos momentos passaram a ter outras cores, tudo estava envolto numa atmosfera de ternura. Cheguei a conclusão de que havia me apaixonado de novo quando senti uma mão fria me tocando o ombro. Diana deu a volta no banco e sentou-se ao meu lado. Depois de alguns segundos de silêncio e de olhar para o infinito, ela se virou para mim:

- Não seria bom que aqui fosse um lugar deserto agora? - disse sorrindo e estendendo os braços em minha direção. A frase era a mesma que eu ouvia em momentos especiais, mas o descompasso do seu coração que pude sentir durante o abraço era totalmente novo. Meu coração também acelerou e minhas lágrimas molharam seu ombro.

Ficamos um tempão conversando sobre banalidades. Elogiei seu novo corte de cabelo, bem moderno e diferente do cabelão comprido que ela tinha quando estávamos juntas. Ela falou que depois de nos separarmos, por várias noites sentia a sensação como se eu estivesse acariciando seus cabelos. Disse que assim como eu precisei tirar as almofadas da minha sala, ela precisou cortar os cabelos na tentativa de se desvencilhar.

Apesar de não nos tocarmos em público, havia eletricidade entre nós. Como dois imãs com pólos invertidos, nossos corpos ansiavam por se aproximarem, mas Diana soube conter seus impulsos. Às vezes, apenas tocávamos de leve na mão, e um arrepio percorria todo o meu corpo.

Conversamos sobre nossos erros e sobre dar uma nova chance. Ela disse que se sentia sufocada e como se já não tivesse mais as rédeas de sua vida. Eu falei de minha frustração, por achar que ela não gostava tanto de mim quanto eu merecia. No caminho para o meu apartamento, chegamos à conclusão que o maior erro de todos foi morar juntas, não estávamos preparadas para isso.

Não lembro sobre o que eu falava quando chegamos ao apartamento. Mas eu dizia alguma coisa enquanto passava a chave na porta.

- Cala a boca, Bárbara! (bem assim, usando Bárbara, ao invés de meu nome "real") - e eu esqueci de tudo.

Ela sabe dos caminhos dessa minha terra *
No meu corpo se escondeu, minhas matas percorreu
Os meus rios, os meus braços
Ela é minha guerreira nos colchões de terra
Nas bandeiras, bons lençois
Nas trincheiras quantos ais - ai!

Cala a boca - olha o fogo!
Cala a boca - olha a relva!
Cala a boca, Bárbara

Num segundo, nossas bocas e nossos corpos estavam colados. O interruptor da razão desligou e eu era apenas pele... e arrepio.

No momento seguinte nossas roupas estavam no chão e meu corpo estava sobre o dela, em cima do sofá. Com as pernas entrelaçadas, eu ondulava os quadris, enquanto sentia suas mãos deslizarem sobre meu corpo e seus dedos procurarem meu cu. Nossos mamilos entumescidos se tocavam e enquanto eu lambia a orelha dela e bebia seu perfume. Suspirava em seu ouvido, dava mordidinhas no lóbulo e lambia o contorno de baixo para cima, sentindo ainda o gosto de seu perfume. A aceleração dos movimentos de sua pelve e as unhas mais enterradas na minha pele era um prenúncio. Na confusão de braços, pernas, fluidos, saliva, nossas almas derreteram.

E a noite estava apenas começando.

É engraçado o sexo entre a gente. Parece que quanto mais sacia, mais fome dá. Fomos para debaixo do chuveiro que esquentou ainda mais o clima. Diana me segurou com firmeza contra os azulejos, e de seu corpo escorria em mim a água quente do chuveiro. Ela me deu um beijo louco, sugando minha língua, mordiscando meus lábios e lambendo na direção do meu pescoço.

Derramei sabonete sobre meu corpo e me esfreguei nela para ensaboar. Friccionava com força os dedos no seu clitoris, arrancando espasmos do seu corpo. Virei-a de costas para mim e continuei me esfregando em nela. Enchia uma de minhas mãos com seu seio enquanto os outros dedos a penetravam, até que ela gozou em minha mão e com a cabeça encostada sobre meu ombro.

Diana então fez o mesmo comigo. Usou mais sabonete para se esfregou em mim. Colocou-me encostada contra a parede e me alucinou usando os dedos, enquanto me olhava diretamente nos olhos. Seus dedos mexiam sem regra sobre meu clitoris, enquanto a outra mão tentava alcançar meu cu. O orgasmo veio de maneira tão violenta que me senti no limiar de desmaiar, de morrer, sei lá. Tive de tirar sua mão de entre minhas pernas à força para poder recobrar o fôlego.

Ela sabe dos segredos que ninguém ensina
Onde guardo meu prazer, em que pântanos beber
As vazantes, as correntes
Nos colchões de ferro ela é minha parceira
Nas campanhas, nos currais
Nas entranhas, quantos ais - ai!

Cala a boca - olha a noite!
Cala a boca - olha o frio!
Cala a boca, Bárbara

Quando estávamos saindo do banho, a comida chinesa chegou. Diana puxou minha toalha, me deixando nua na sala e disse para eu ir atender a porta. É uma fantasia minha, atender nua um entregador de comida. Não para fazer alguma "coisa". Só para ficar olhando para a cara dele enquanto eu agia com naturalidade. Nunca tive coragem para fazer isso e há alguns meses passamos a ter mais um porteiro no horário noturno, então normalmente é um deles que vem trazer as encomendas. Peguei o roupão e fui receber a comida.

Depois de jantar fomos para a cama. A televisão ligada sequer recebeu a nossa atenção. A minha fome de Diana não parecia ter fim. Voltamos a nos beijar com sofreguidão e logo já estávamos nuas novamente. Ela deitou do lado contrário da cama, de lado, oferecendo sua coxa como apoio, fiz o mesmo que ela, e um 69 delicioso coroou e nossa noite.

Foi duro e ao mesmo tempo foi muito legal vê-la indo embora depois de tudo isso. Eu queria acordar no dia seguinte com ela, mas ela insistiu em ir embora, "para o bem de nossa relação". Fiquei feliz.

* * *
A canção é de autoria de Chico Buarque e Rui Guerra, os grifos são meus e indicam a mudança nos pronomes (na canção eles são masculinos)

Perdão

Desculpa mais um sumiço - acho que vocês já estão meio acostumados com isso, não é?

Mas dessa vez a culpa foi da internet porcaria que eu tinha aqui em casa, que vivia caindo e me tirava a paciência. Cancelei a assinatura e só depois fui em busca de outra que oferecesse um serviço melhor, acessando a web apenas do trabalho.

Daqui para a frente não tenho mais desculpa para ficar longe do blog. Se as postagens demorarem, a culpa será totalmente minha mesmo, ou da preguiça que tenta me puxar de volta para a cama em manhãs chuvosas como esta.

Mais tarde tem um post novinho falando sobre uma novidade antiga: Diana e eu reatamos, e isso foi há quase duas semanas. Eu já havia escrito alguma coisa enquanto estava offline, mas preciso dar uma olhada no texto de novo para não escorregar no português. Já expulsei a preguiça da cama e vou fazer isso agora.

Volto já.

PS: amigas e amigos que aguardam respostas de mensagens enviadas para meu e-mail. As respostas virão em seguida do próximo post.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Centelhas


Eu tinha razão, mesmo sem deixar rastros, Diana sempre esteve por aqui. Depois que ela leu a verdade sobre as almofadas, resolveu me telefonar. Ficou chateada e disse que aquilo era a "gota d'água" e que sempre detestou a minha mania de ficar "imaginando coisas" por trás dos seus gestos. Ela despejou isso e mais um monte de coisas ao telefone, sem me dar chances para me explicar. Pedi para conversar com calma e como ela está viajando à trabalho, marcamos de nos ver no final de semana. Apesar da voz contrariada dela, passei o dia inteiro com um sorriso por dentro.

Lembrei agora de uma briga que a gente teve muito tempo atrás, antes mesmo de a gente morar juntas. Diana nunca se conformou por eu não ter "saído do armário" e ficava muito chateada porque eu evitava seus afagos em público. Para ela, eu devia admitir para todo mundo que sou lésbica e tapar os ouvidos para o preconceito. Só que isso não é tão fácil assim. A gente saiu uma noite e ela ficou de pilequinho (eu sempre quis escrever de pilequinho, como Dalton Trevisan em "A Polaquinha") e queria ficar me beijando na frente de todo mundo, por isso eu quis voltar para casa mais cedo.

Chamei-a num canto para conversar e ela disse que se eu quisesse, que voltasse para casa sozinha, e assim eu fiz. No dia seguinte, ela chegou cedinho no apartamento, ainda furiosa comigo e dizendo que nem aproveitou o resto da noite nem conseguiu dormir depois disso. Como eu havia dormido nua, estava toda embrulhada no lençol enquanto ela brigava comigo, e estava agoniada porque sempre que saio da cama, meu destino sempre é o banheiro para fazer xixi.

- Espere aí que eu volto já - eu disse.

- Vai aonde? - disse, puxando o lençol e me deixando nua no meio da sala.

Antes que eu pudesse me responder, ela me agarrou.

Enquanto sua língua penetrava na minha, me empurrava até a parede. Usou o joelho para separar as minhas pernas, enquanto segurava meu cabelo e forçava a minha cabeça para trás. Ela começou a morder meu pescoço e tudo que eu conseguia fazer era roçar minha boceta na calça jeans que ela continuava vestindo. Enquanto sugava meus mamilos, pressionou suas unhas compridas contra minha bunda.

Aqueles toques rudes me machucavam um pouco, mas o tesão era incontrolável. Poucas vezes me senti assim em toda a minha vida. Eu já estava completamente molhada sem sequer tocar o clitóris. A cada vez que ela arranhava a minha bunda, chegava mais perto do meu cu. Até que enfim ela enfiou o dedo lá dentro. Aí realmente doeu porque não havia lubrificação, e então passou a me bater uma siririca. Diana, que ainda estava completamente vestida, queria me castigar... pelas minhas expressões, ela percebia quando meu orgasmo estava se aproximando, então parava de friccionar os dedos no meu clitóris e enfiava no meu cu, além de amassar meus peitos com a outra mão.

Chegou um momento que eu não estava me aguentando mais e acabei gozando com um dedo enfiado no cu. Gozei tanto que cheguei a molhar um pouco a calça que ela vestia - achei que era um pouco de xixi e fiquei sem graça na hora, mas Diana achava que eu havia ejaculado! até hoje eu tenho minhas dúvidas - mas pelo menos isso serviu de pretexto para eu tirar a roupa dela.

Ela deitou no chão, levantou os quadris e eu comecei a lhe fazer sexo oral. Comecei de cima para baixo, com as costas da língua e cheirando seus ralos pêlos pubianos que começavam a nascer. É gostoso o cheiro que sai quando a boceta começa a molhar. Eu tratei de deixá-la ainda mais molhada, sugando os grandes e pequenos lábios ora juntos, ora separado. Beijei, como se fosse uma boca e então Diana resolveu mudar de posição. Eu fiquei deitada no chão, e ela de quatro em cima de mim. Sentou esfregando a boceta em minha cara enquanto voltava friccionar meu clitoris. Botei a língua para fora o máximo que pude, enquanto ela pulava como se estivesse sobre um pau.

Não demorou muito tempo até que ela gozasse e então deitou sobre meu corpo, abraçando as minhas pernas estendidas. Depois de recobrar o fôlego, levantou só um pouco e começou a lamber minha virilha. Eu tentava abrir as pernas, mas ela continuava segurando-as juntas e estendidas no chão enquanto desenhava minha virilha com a língua enquanto eu me debatia de prazer e tentava me desvencilhar.

Quando por fim ela me soltou, foi para sentar diante de mim, colocando as suas pernas entre as minhas e encostando sua virilha na minha. À medida que movíamos os quadris, nossos clitoris eram friccionados. Nossos sucos se misturaram e quando comecei a gozar não sabia se o que estava me dando mais prazer era meu próprio orgasmo ou se era o de Diana que gozava também.

Nem preciso dizer que depois não havia sobrado mais nenhuma raiva, não é? kkkkkkk

* * *

Nossa, depois de relembrar tudo isso tive que dar uma parada para "render uma homenagem" aos bons e velhos tempos. Espero e vou fazer de tudo para que eles retornem (viu Diana?), porque tão ou mais gostoso do que nossas transas era dormir abraçada e acordar no outro dia ao seu lado. Acho que merecemos uma nova chance.

domingo, 24 de maio de 2009

Sobre encontros inesperados e almofadas


(Gustav Klint - Woman friends)

Mesmo contra a minha vontade, logo vários amigo ficaram sabendo que eu estava doente. Eu sempre gostei de receber bem as pessoas no meu canto, com o ambiente bem iluminado e levemente perfumado, as coisas em ordem (não arrumadas porque nunca nunca consegui deixar o apartamento totalmente arrumado), as janelas abertas e aperitivos. Mas nos primeiros dias, eu não tinha forças pouca coisa além de ficar zapeando pelos canais da TV.

Minha mãe ainda ficou uma semana cuidando de mim e fez um bolo que lá no RN é chamado de cocada baiana, porque mais grossa que a camada do bolo é a cobertura que é feita de cocada molinha, com raspas grossas de coco (meus olhos reviram só de lembrar!), que fez sucesso entre quem apareceu lá em casa, entre elas uma visita inesperada: Diana.

Foi estranho tanto para mim quanto para ela estar lá em casa novamente. Percebi que ela observou s móveis mudados de lugar e a ausência das almofadas vermelhas, em forma de rosas, que ela havia me dado, e que não estavam mais no sofá da sala. Para mim, a sensação era de que já fazia tanto tempo que ela esteve aqui pela última vez, que parecia até que o nosso rompimento não passava de um sonho. Eu não sentia mais raiva ou remorso, mas também não era a mesma pessoa que havia convivido com ela.

Diana me tocou com suas mãos frias e o beijo que me deu no rosto durou um milésimo de segundo a mais do que um simples cumprimento amistoso. Fiquei um pouco apreensiva no começo – minha mãe nunca soube que eu namorei outra mulher – mas Diana tratou de deixar o clima ameno. Até que no meio da conversa perguntou pelas almofadas que havia me dado de presente, mas antes que eu falasse qualquer coisa, minha mãe respondeu.

- Aquelas almofadas lindas? Lavei, porque estavam com cheiro de mofo. Elas estão penduradas para secar.

Na hora, o rosto de Diana se iluminou. Adivinhei que ela estava pensando que eu havia me livrado das almofadas e ficou feliz quando soube que eu as tenho. Mas o que ela não sabia, e vai ficar sabendo agora, porque Diana é a única pessoa que conhece (ou melhor, tem certeza) da real identidade dessa pessoa que vos fala (tem muita gente que acha que conhece, e até que pensam que sou homem, rsrsrsrs). Bem, o que ela vai ficar sabendo agora é que o presente que me deu tava mofando no fundo do guarda-roupa e foi idéia da minha mãe resgatá-lo de lá. Eu havia guardado porque queria afastar de mim qualquer objeto que me lembrasse ela. Mas isso já passou.

Por um momento, minha mãe nos deixou sozinhas, enquanto atendia um telefonema do meu pai no outro quarto. Ela segurou minhas mãos entre as dela e pensei que ela fosse falar alguma coisa, pensei que eu fosse falar alguma coisa, mas ficamos em silêncio, até que ouvimos os passos da minha mãe retornando. Então tive certeza, algumas coisas não acabaram.

* * *

Não sei se devia estar falando essas coisas porque, como já disse, Diana pode ler isso aqui. Pode ser que esses pequenos sinais que percebi não signifiquem nada, pode ser que ela fique chateada por saber que o retorno das almofadas para o sofá foi obra de minha mãe. Já faz mais de uma semana que isso tudo aconteceu e não nos falamos mais, desde então. Mas eu espero que uma pequena centelha do que já passamos permaneça viva nela, porque em mim ainda existe. É isso que estou sentindo agora.