Seria um fim de tarde esplendoroso, aquele sábado dia 30 de maio, se o barulho da cidade e suas pessoas não estragassem a paisagem. Ansiosa por nosso reencontro, cheguei meia hora adiantada. Sentei no nosso banco, onde tantas vezes tentávamos fechar os ouvidos (e o nariz) para a cidade e enxergar apenas a areia, o mar, o céu. Desde que Diana me visitou quando eu estava doente, as lembranças de nossos momentos passaram a ter outras cores, tudo estava envolto numa atmosfera de ternura. Cheguei a conclusão de que havia me apaixonado de novo quando senti uma mão fria me tocando o ombro. Diana deu a volta no banco e sentou-se ao meu lado. Depois de alguns segundos de silêncio e de olhar para o infinito, ela se virou para mim:
- Não seria bom que aqui fosse um lugar deserto agora? - disse sorrindo e estendendo os braços em minha direção. A frase era a mesma que eu ouvia em momentos especiais, mas o descompasso do seu coração que pude sentir durante o abraço era totalmente novo. Meu coração também acelerou e minhas lágrimas molharam seu ombro.
Ficamos um tempão conversando sobre banalidades. Elogiei seu novo corte de cabelo, bem moderno e diferente do cabelão comprido que ela tinha quando estávamos juntas. Ela falou que depois de nos separarmos, por várias noites sentia a sensação como se eu estivesse acariciando seus cabelos. Disse que assim como eu precisei tirar as almofadas da minha sala, ela precisou cortar os cabelos na tentativa de se desvencilhar.
Apesar de não nos tocarmos em público, havia eletricidade entre nós. Como dois imãs com pólos invertidos, nossos corpos ansiavam por se aproximarem, mas Diana soube conter seus impulsos. Às vezes, apenas tocávamos de leve na mão, e um arrepio percorria todo o meu corpo.
Conversamos sobre nossos erros e sobre dar uma nova chance. Ela disse que se sentia sufocada e como se já não tivesse mais as rédeas de sua vida. Eu falei de minha frustração, por achar que ela não gostava tanto de mim quanto eu merecia. No caminho para o meu apartamento, chegamos à conclusão que o maior erro de todos foi morar juntas, não estávamos preparadas para isso.
Não lembro sobre o que eu falava quando chegamos ao apartamento. Mas eu dizia alguma coisa enquanto passava a chave na porta.
- Cala a boca, Bárbara! (bem assim, usando Bárbara, ao invés de meu nome "real") - e eu esqueci de tudo.
Ela sabe dos caminhos dessa minha terra *
No meu corpo se escondeu, minhas matas percorreu
Os meus rios, os meus braços
Ela é minha guerreira nos colchões de terra
Nas bandeiras, bons lençois
Nas trincheiras quantos ais - ai!
Cala a boca - olha o fogo!
Cala a boca - olha a relva!
Cala a boca, Bárbara
Num segundo, nossas bocas e nossos corpos estavam colados. O interruptor da razão desligou e eu era apenas pele... e arrepio.No meu corpo se escondeu, minhas matas percorreu
Os meus rios, os meus braços
Ela é minha guerreira nos colchões de terra
Nas bandeiras, bons lençois
Nas trincheiras quantos ais - ai!
Cala a boca - olha o fogo!
Cala a boca - olha a relva!
Cala a boca, Bárbara
No momento seguinte nossas roupas estavam no chão e meu corpo estava sobre o dela, em cima do sofá. Com as pernas entrelaçadas, eu ondulava os quadris, enquanto sentia suas mãos deslizarem sobre meu corpo e seus dedos procurarem meu cu. Nossos mamilos entumescidos se tocavam e enquanto eu lambia a orelha dela e bebia seu perfume. Suspirava em seu ouvido, dava mordidinhas no lóbulo e lambia o contorno de baixo para cima, sentindo ainda o gosto de seu perfume. A aceleração dos movimentos de sua pelve e as unhas mais enterradas na minha pele era um prenúncio. Na confusão de braços, pernas, fluidos, saliva, nossas almas derreteram.
E a noite estava apenas começando.
É engraçado o sexo entre a gente. Parece que quanto mais sacia, mais fome dá. Fomos para debaixo do chuveiro que esquentou ainda mais o clima. Diana me segurou com firmeza contra os azulejos, e de seu corpo escorria em mim a água quente do chuveiro. Ela me deu um beijo louco, sugando minha língua, mordiscando meus lábios e lambendo na direção do meu pescoço.
Derramei sabonete sobre meu corpo e me esfreguei nela para ensaboar. Friccionava com força os dedos no seu clitoris, arrancando espasmos do seu corpo. Virei-a de costas para mim e continuei me esfregando em nela. Enchia uma de minhas mãos com seu seio enquanto os outros dedos a penetravam, até que ela gozou em minha mão e com a cabeça encostada sobre meu ombro.
Diana então fez o mesmo comigo. Usou mais sabonete para se esfregou em mim. Colocou-me encostada contra a parede e me alucinou usando os dedos, enquanto me olhava diretamente nos olhos. Seus dedos mexiam sem regra sobre meu clitoris, enquanto a outra mão tentava alcançar meu cu. O orgasmo veio de maneira tão violenta que me senti no limiar de desmaiar, de morrer, sei lá. Tive de tirar sua mão de entre minhas pernas à força para poder recobrar o fôlego.
Ela sabe dos segredos que ninguém ensina
Onde guardo meu prazer, em que pântanos beber
As vazantes, as correntes
Nos colchões de ferro ela é minha parceira
Nas campanhas, nos currais
Nas entranhas, quantos ais - ai!
Cala a boca - olha a noite!
Cala a boca - olha o frio!
Cala a boca, Bárbara
Onde guardo meu prazer, em que pântanos beber
As vazantes, as correntes
Nos colchões de ferro ela é minha parceira
Nas campanhas, nos currais
Nas entranhas, quantos ais - ai!
Cala a boca - olha a noite!
Cala a boca - olha o frio!
Cala a boca, Bárbara
Quando estávamos saindo do banho, a comida chinesa chegou. Diana puxou minha toalha, me deixando nua na sala e disse para eu ir atender a porta. É uma fantasia minha, atender nua um entregador de comida. Não para fazer alguma "coisa". Só para ficar olhando para a cara dele enquanto eu agia com naturalidade. Nunca tive coragem para fazer isso e há alguns meses passamos a ter mais um porteiro no horário noturno, então normalmente é um deles que vem trazer as encomendas. Peguei o roupão e fui receber a comida.
Depois de jantar fomos para a cama. A televisão ligada sequer recebeu a nossa atenção. A minha fome de Diana não parecia ter fim. Voltamos a nos beijar com sofreguidão e logo já estávamos nuas novamente. Ela deitou do lado contrário da cama, de lado, oferecendo sua coxa como apoio, fiz o mesmo que ela, e um 69 delicioso coroou e nossa noite.
Foi duro e ao mesmo tempo foi muito legal vê-la indo embora depois de tudo isso. Eu queria acordar no dia seguinte com ela, mas ela insistiu em ir embora, "para o bem de nossa relação". Fiquei feliz.
* * *
A canção é de autoria de Chico Buarque e Rui Guerra, os grifos são meus e indicam a mudança nos pronomes (na canção eles são masculinos)
16 comentários:
Eu imaginei de mil formas diferentes como seria esse reencontro, mas esfregação debaixo do chuveiro estava fora da minha imaginação.
Vocês duas são deliciooooosas!!!!!!!
Molhei...
Adriana
Bárbara?,
Li agora seus antigos posts e tenho quase certeza que te conheço. Não só conheço como fiz parte de sua história. Que decepção saber que você se tornou uma lésbica. Irei investigar e terei as conclusões. Imagine quando as pessoas aqui do Rio Grande do Norte, como você não diz a cidade, souber.
Obrigada pela visita!
E volte sempre!
Amor não deve ter amarras!
Seja feliz!
Beijos!
Barbara,
que saudade... tenho pensado muito nisso entre vc e Diana, fico muito feliz em ver que voltou... eu tinha passado aqui bem rapido semana passada, mas só acabei de ler o post hj....
fico feliz mesmo, da para sentir a sua alegria... e que tesão me deu em ler isso....
ahhh, to correndo muito mas tem novidades tb,... acho que no decorrer da semana eu coloco lá;... mais um segredo...rsssss
Bijão bem grande
Nas delícias de um grande encontro o banho do gozo faz-se inevitável.
Csdinho RoCo
TO curtindo, Bárbara.
Um beijo,
L.
Sexo, comida, comida chinesa, Chico... que texto maravilhoso!
Isso me faz lembrar a música da Adriana Calcanhoto ("Vambora"): "Ainda tem você na sala..."
Enfil
tá lá a continuação ;)
beijosssssss... ontem pensei que só em vc.
Bárbara, vc escreve bem, menina. Olha, eu nasci em Alagoas e vivi na Ponta Verde até julho do ano passado. E publiquei o livro CRIANCAS REFUGIADAS EM MOCAMBIQUE. se vc puder comprar ou divulgar, eu vou agradecer.bjs e dias felizes
www.graceolsson.com/blog
oi Barbara,
já rolou alguns desse tipo... até rolou um na semana passada, esse primeiro foi para mostrar como tudo começou... mas vou esccrever o da semana passada... em breve.
pensei um monte de coisa... lembrei muito de vc ouvindo chico...
beijos
Bom final de semana
Enfil
http://blogdoenfil.blogspot.com/
oi Barbara,
o lance, pelo menos para mim, é não forçar a barra.... menage é muito bom, muito bom mesmo. mas tudo no seu tempo... as coisas não rolam do dia para noite. confiança é fundamental...
beijão, adoro ler seus comentarios no meu cantinho :)
Beijos
Foi difícil chegar ao fim deste post. preciso achar minha mulher urgentemente. Ela deve estar em algum lugar da casa...dá licença.
Há braços!!
Boa semana, moça!
Enfil
Li, reli, mas espere, eu preciso ler novamente! Que delícia de post, estou tão contente por você. Confesso que às vezes me recordo de algumas passagens deliciosas que já passei por aqui.
Depois eu volto... Um beijo e tenha uma excelente semana Bárbara! ;)
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