quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Deixando as máscaras caírem

(www.pintodamadrugada.com.br)

Engraçado, foi usando uma máscara que me senti mais livre do que nunca. Acho que fui contaminada pelo espírito do Carnaval nesse fim de semana. Toda a pessoa que coloca uma fantasia - seja as elaboradas que custaram três dígitos ou como a do cara que enfiou um monte de garrafas de refrigerante nas pernas e nos braços - perde o medo do ridículo e manda às favas as convenções da sociedade. Lógico que existem algumas pessoas que estão ali para aparecer, mas é possível notar que muita gente estava ali vivendo a sua fantasia. No meio de homens das cavernas, piratas, fadas e palhaços, me senti livre. Foi usando uma máscara que deixei que caísse todas as minhas.


"A felicidade do pobre parece
A grande emoção do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra viver a fantasia
De rei ou de pirata ou de jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim"

(Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Estou feliz hoje. Esse fim de semana foi maravilhoso, apesar de ter me deixado com algumas marcas na pele, por causa da quantidade de tempo de exposição ao sol. Mas como é que eu poderia lembrar de passar bloqueador solar, algo tão pequeno ante à minha alegria de pular frevo junto de Diana, nós duas fantasiadas de diabinhas? A minha alegria era tamanha que se traduziu em energia, tinha hora que em vez de pular, eu saía correndo puxando Diana pelo braço, que já estava preocupada achando que eu estava “alegrinha” por causa de uma única caipirosca que tomei.

Tentei fazer um passo de frevo e me estabaquei com a bunda no chão, e ri de mim mesma. Um estranho me ajudou a levantar e disse, “continua pulando que a dor passa”. A queda quebrou um pouco do meu ritmo, a região do cóccix ficou doendo, mas passou que eu esqueci. Brinquei com pessoas que não conhecia e beijei na boca. Beijei sim a Diana. Estávamos lado a lado, ela com o braço no meu ombro e eu com o meu em volta da cintura dela. Puxei-a pra junto de mim e dei um beijão. Ela me olhou com cara de assustada e eu cai na gargalhada (juro que eu não estava bêbada, tomei só uma caipirosca mesmo, com aquele calor todo eu só bebia água ). Tinha um grupo de pessoas no nosso lado que ficou olhando, eu virei e disse:

- Tem nada não. Na verdade ela é homem, e já está fantasiado para sair nas Pecinhas.

- Mentira. Ela é que homem. Quer ver? – a Diana falou, enquanto levantava um pouco meu vestido vermelho.

Puxei a mão dela e saímos às gargalhadas daquela multidão. Estávamos perto do meu prédio e corremos para lá. Como eu já havia feito um ato louco, ousei pela segunda vez (pelo menos para os meus padrões). Em vez de subirmos para o apartamento, fomos para a garagem e atrás de uma pilastra começamos a nos agarrar. Eu comprimia o corpo de Diana contra a parede enquanto nos beijávamos freneticamente, o calor e o suor ajudaram a impregnar o ar com cheiro de sexo, e Diana gozou em meus dedos. De repente a porta da garagem se abriu e entrou um carro, ficamos imóveis, escondidas, e por sorte foi estacionado um pouco distante de onde estávamos. Depois que ficamos novamente sozinhas, deixamos a garagem e voltamos para a avenida.

Acompanhamos o desfile do Pinto da Madrugada até o final. A alegria era maior que o calor, a fome, o cansaço. O som da banda de fanfarra, quando tocava uma marchinha conhecida, era o alimento para eu e uma multidão continuar pulando sob o sol do meio-dia.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Carta para Carlos

(Davi, alegoria que representa a vitória da justiça contra a força bruta)*


Quando eu comecei esse blog, eu não imaginava que ele iria dar o que falar. Aliás, nem mesmo eu sabia que ele acabaria tomando outros rumos diferente do que eu pensava no começo. A intenção era mesmo falar de mim e de minha sexualidade, não exatamente relatando o que acontece entre Diana e eu dentro de quatro paredes.

Ter uma opção sexual diferente da maioria das pessoas é barra pesada difícil de suportar, principalmente se você vir de uma família como a minha, de valores tradicionais - ou melhor dizendo, arcaicos. Apesar de não ser mais uma adolescente, eu vivo as minhas crises de identidade, vario entre o contentamento de ter Diana ao meu lado e o temor do preconceito contra as pessoas homossexuais.

Por incrível que pareça, acho mais fácil ser gay do que lésbica, mas também não estou na pele de um gay para saber disso. Por mais que a sociedade tenha aversão à demonstrações de afeto entre homens - o que entre mulheres é visto como algo sensual em alguns circulos - é mais difícil para a sociedade aceitar que uma mulher não precisa abrir as pernas para um homem para ser feliz.

Acredite, Carlos, somente as pessoas com quem tenho maior aproximação tem certeza absoluta de que sou lésbica. No trabalho tem algumas pessoas que desconfiam, porque estou sempre com a Diana à tiracolo, que já teve namoradas antes de mim. E só por isso já ouvi coisas horríveis, tipo: "você é mal amada", "precisa de uma pica de verdade", sem contar algumas poucas vezes que apareceram homens dispostos a pagar pra ver "duas mulheres se pegando, e depois mostrar o que é bom de verdade".

Lógico que na hora eu fico puta de raiva, mando tomar naquele canto e o escambau. Mas depois é como se essas ofensas ficassem se repetindo em minha cabeça. Então às vezes acho que no fundo, no fundo, eu tenho a mesma índole arcaica dos meus pais, e não consigo me aceitar como sou. Diana já tirou de letra situações bem piores do que essas que eu já passei, e quem perguntar se ela gosta de meninos ou meninas, ela responde sem titubear que gosta mesmo é de meninas.

Vai ver que na verdade não sou totalmente lésbica. Eu não me visto como homem, tenho horror a ficar cabeluda (mulher devia mesmo ter cabelo somente na cabeça e nas sobrancelhas, todo o resto serve apenas para causar sofrimento diante de depiladoras sádicas), e da mesma maneira que gosto de mulher, também gosto muito de ser mulher.

No primeiro post que conta uma transa entre Diana e eu, tive a intenção apenas de descrever um momento legal. Achei que o texto ficou massa, bem escritozinho e detalhado. Pelo jeito, os leitores também gostaram, rsrsrs. O que tem demais em ser uma mulher safada? Eu gosto de pornografia, sou fissurada em cu e acho que no sexo como na vida, vale tudo para ofertar e sentir prazer. Gosto muito de escrever, desde a minha adolescência eu mantive diários e o blog é mais um deles. Sempre me esforcei para escrever bem também, mas não sou perfeita.

Carlos, Quer dizer que seu lado safado é exatamente como meu blog, é? rsrsrs Não deixo de ficar lisongeada em saber que algumas pessoas achem que eu sou você, porque te admiro muito pelo que você escreve e também pelo pouco que a gente se conhece através dessa troca de emails. Mas eu não sou L. V. ou nenhuma pessoa que você conheça na vida real.

Aliás, se eu não tivesse começado a expor meu lado safado e as intimidades entre Diana e eu, era possível que me revelasse nesse espaço.

Mas, "Cala a boca, Bárbara!"

* * *
A imagem de Davi é uma homenagem para Carlos, que é o destinatário dessa mensagem que enviei em 8 de fevereiro de 2009. Apesar de conhecê-lo apenas na blogosfera, é um cara com quem me identifico muito. A gente vem trocando e-mails nos últimos dias e ele fala que algumas pessoas pensam que ele é o autor desse blog. Mas como ele mesmo diz, "todo mundo tem um pouco de Bárbara".